quarta-feira, 24 de março de 2010

homenagem ao sambista compositor Ismael Silva.



Nascido em Niterói (RJ), filho de um cozinheiro e de uma lavadeira, Ismael foi um dos maiores sambistas dos anos 30 e 40 no Brasil. Criado na zona norte do Rio de Janeiro, desde cedo freqüentou rodas de samba e malandragem do Estácio, e começou a compor, sendo fundador da primeira escola de samba, a Deixa Falar, em 1928.

Em 1925 teve o seu primeiro samba gravado: Me faz carinhos. Essa composição promoveu a sua aproximação com Francisco Alves, o Chico Viola ou Rei da Voz. Ao lado de Nílton Bastos e Francisco Alves, Ismael formou o trio que ficou conhecido como Bambas do Estácio e que deu origem àquele que é considerado um dos mais bonitos sambas da história: Se você jurar.

Após a morte de Nilton, teve início sua contribuição com Noel Rosa. As dezoito composições da dupla fazem de Ismael Silva o mais frequente parceiro do Poeta da Vila. Ismael foi responsável, junto com os outros “bambas” do Estácio, pela forma que o samba tem até hoje, mais independente do maxixe e de ritmo mais marcado e cadenciado, para facilitar a evolução dos foliões que desfilavam pela escola. Na década de 20 fez um acordo com Francisco Alves, que permitia ao cantor gravar composições de Ismael e constar como autor, mediante pagamento prévio. Esse “comércio” de sambas era prática comum nos anos 20 e 30. Além de Ismael, Noel Rosa, Cartola, Nelson Cavaquinho e outros venderam sambas. “Me Faz Carinhos” e “Amor de Malandro” foram dois sucessos na voz de Francisco Alves comprados de Ismael.



Nos anos 30 Ismael Silva se tornou uma figura lendária no mundo do samba carioca. Seus sambas foram gravados com muito sucesso pelos cantores mais populares da época, Francisco Alves e Mário Reis, que cantaram em dueto “Se Você Jurar”, em 1931. Foi parceiro de Noel Rosa em sambas como “Pra Me Livrar do Mal”, “A Razão Dá-se a Quem Tem” (com F. Alves), “Ando Cismado” e “Adeus”. Na década de 40 dedicou-se a apresentações esporádicas, voltando com maios assiduidade em 1954 nos show da Velha Guarda produzidos por Almirante.

Nos anos 60 também freqüentou o bar Zicartola e se apresentou em programas de televisão, tornando-se conhecido por outras gerações. Em 1975 realiza sua última apresentação pública, fechando um cilco de 50 anos dedicados à música popular. Gal Costa regravou com êxito seu autobiográfico “Antonico”, assim como Jardes Macalé resgatou o clássico “Contrastes”, e Cristina Buarque alguns de seus memoráveis sambas. Morreu em 1978, numa casa de cômodos no centro do Rio, sem fama nem dinheiro.


Das inumeras obras de Ismael Silva nos destacamos uma que a madrinha Beth Carvalho regravou Se Você Jurar

Se você jurar
(Ismael Silva, Nílton Bastos e Francisco Alves)


Se você jurar
Que me tem amor
Eu posso me regenerar,
Mas se é
Para fingir, mulher,
A orgia assim não vou deixar

Muito tenho sofrido
Por minha lealdade
Agora estou sabido
Não vou atrás de amizade
A minha vida é boa
Não tenho em que pensar
Por uma coisa a toa
Não vou me regenerar

Se você jurar...

A mulher é um jogo
Difícil de acertar
E o homem como um bobo
Não se cansa de jogar
O que eu posso fazer
E se você jurar
Arriscar e perder
Ou desta vez então ganhar.

Ismael Silva ainda não teve um reconhecimento à altura em nosso cenário musical. Tímido, parceiro de Noel Rosa dentre outros bambas, o compositor resguardou-se a um imaginário próprio, de uma arte que condicionara sua vida, numa confluência atípica, o que implicou-lhe um isolamento, especialmente em seu 3 últimos anos de vida. Contraditoriamente, seus sucessos são constantemente regravados, mostrando a modernidade de sua composição, bem como sua resistência.


Acrescenta-se a este fato a existência de um número significativo de sambas inéditos a serem apresentados pela primeira vez, num evento que crive definitivamente o nome e a nobreza de Ismael Silva, aclamado em vida como “São Ismael”, tanto para o público eu conheça sua obra, ou para o que conhecerá sua história.

2 comentários:

Raul Martins de Oliveira disse...

Belo artigo... hoje não é dado nenhum valor àqueles que fizeram sucesso no passado. Acredito que se Noel, Ismael, Wilson e tantos outros fossem vivos hoje, eles não fariam nem um décimo do sucesso que faziam nos anos 30. Concordo que o mundo e o Brasil prosperaram, mas no aspecto cultural e "musical-intelectual" o brasileiro só piorou, na minha opinião.

Raul Oliveira disse...

Belo artigo... não é dado devido valor àqueles que fizeram sucesso no passado. Acredito que se Noel, Wilson, Ismael entre outros gênios fossem vivos hoje não fariam nem um décimo do sucesso que fizeram na década de 30. Em antítese ao desenvolvimento do mundo e do Brasil, o nível cultural e "musical-intelectual" do brasileiro é vergonhoso atualmente. Eu, ainda frequentador de escola, presencio todos os dias na rede pública a falta de conhecimento dos jovens, e isso quer dizer que daqui a 40 anos o reconhecimento a esses grandes nomes da música estará extinto.